BenchSmart: Análise do Setor de Gás Natural
Argentina: o país com maior cobertura de gás natural da América Latina, com 61%. A Colômbia segue com 53%.
De acordo com estudo lançado pela Quantum, no setor residencial, o gás natural atende às necessidades de energia dos usuários (cozinha, aquecimento e água quente) em cerca de 166 milhões de residências em toda a América Latina. A Argentina é o país com maior cobertura, diferentemente de seus países vizinhos, fornecendo o serviço a 8,5 milhões de usuários dos 13,7 milhões de usuários potenciais a serem conectados

Sobre o estudo
O desenvolvimento do gás natural tem sido heterogêneo em toda a região da América Latina. Assim, em países como Argentina ou Colômbia, há um alto nível de cobertura e taxa de penetração (número de pontos de abastecimento / domicílios existentes), em comparação com outros países como Brasil ou Uruguai, cujo nível de cobertura atingiu apenas 4% da total de seus domicílios. Isso se deve a uma infinidade de fatores, desde a própria dispersão demográfica até a existência de diferentes fontes de suprimento de gás; bem como pelos preços e descontos oferecidos aos usuários neste combustível e, consequentemente, pelos preços dos combustíveis substitutos.
Talvez uma das crenças mais difundidas sobre a distribuição de gás por rede, é que a cobertura nas áreas pelas quais a rede passa é próxima a 100%. No entanto, não é assim.
A consultoria Quantum[i] desenvolveu uma análise do nível de cobertura de gás natural na América Latina, por meio de sua ferramenta web (de sua própria elaboração) chamada BenchSmart[ii], , extraindo as informações necessárias sobre o número de usuários residenciais, o número de residências, o índice de superlotação e a população de cada país, o que permitiu o cálculo do fator de cobertura em cada um dos países da região.
A ferramenta BenchSmart é uma plataforma web que permite recolher informação e definir indicadores macroeconômicos, de desempenho, financeiros e de custos para avaliar a eficiência relativa das empresas, monitorizar o seu desempenho e gerar relatórios de negócio das distribuidoras, bem como realizar análises a nível país ou região , como neste caso.

A expansão da rede de distribuição e, portanto, da cobertura, depende principalmente do aumento do número de clientes, que por sua vez é determinado fundamentalmente pelo crescimento demográfico da população. A partir de informações demográficas dos diferentes países e das próprias distribuidoras, extraídas de diferentes fontes, foi determinado o fator de cobertura, como o número total de domicílios com gás natural sobre o total de domicílios em todo o território.
Da análise elaborada pela Quantum, observa-se no gráfico que a Argentina possui a maior taxa de cobertura de gás natural em toda a região da América Latina com 61%, depois da Colômbia, que ao final de 2020 atingiu 53%. Isso significa que, de cada 10 residências existentes na Argentina, 6 delas são alcançadas por redes de gasodutos de uma distribuidora local que fornece gás natural domiciliar. Na Colômbia, 5 em cada 10 residências (uma a menos que a Argentina) conseguem usar esse combustível para aquecimento, cozinha e água quente.
Nesse ranking, seguem-se Bolívia, Chile e Peru, com apenas 18%, 11% e 10%, respectivamente, classificando-os como o grupo de países com nível intermediário de cobertura de gás natural na América Latina. Em seguida, os países com os menores níveis de cobertura são Venezuela com 6%, México com 5% e Brasil e Uruguai com 4%. Este último grupo de países não atinge a proporção de 1 em cada 10 domicílios com abastecimento de gás natural.
Argentina
Como já mencionamos, a Argentina ocupa a primeira posição em termos de país com maior cobertura de gás natural da América Latina. O gás natural atualmente naquele país abastece 61% dos domicílios do país, ou seja, são 8,5 milhões de usuários ante os 13,7 milhões de domicílios que existem atualmente, segundo dados do INDEC (Instituto Nacional de Estatística e Censos da República Argentina)[iii].
O fato de a Argentina ter alcançado esses níveis de cobertura não é por acaso. A Argentina possui uma extensa capacidade de transporte composta principalmente por cinco gasodutos troncais com extensão próxima a 16.000 km, conseguindo assim abranger territorialmente maiores pontos de abastecimento em todo o país. A idade das instalações varia. Mais de 40% das tubulações e mais de 15% da potência instalada têm mais de 40 anos.
Em relação ao sistema de distribuição, a extensão total da rede no final de 2013 era de 138.200 km. De acordo com os diversos cenários propostos pelo Instituto Argentino del Petróleo y el Gas[iv], atualmente estão previstos grandes investimentos. O Instituto estabelece uma extensão do sistema de distribuição em 86.900 km e 1.420 estações de regulação, destinadas a atingir uma cobertura de 76% dos usuários em 2035 com uma distribuição mais homogênea em todo o país.
Esses níveis de cobertura dependem de vários fatores. Uma delas é que a Argentina tem uma matriz energética fortemente sustentada por hidrocarbonetos (88%), e uma importante dependência do fornecimento de gás importado da Bolívia, que tem se sustentado com uma política de subsídios voltada para o setor de transporte e energia. Enquanto o Chile e a Colômbia só o fazem via GNL e, por sua vez, a Venezuela e o Uruguai somente via gasoduto.
Outro fator são os preços e subsídios concedidos aos usuários que consomem gás natural. Conforme referido no relatório sobre “Balance de gestión ene energía 2016-2019” [v] entregue pelo Secretário de Governo da Energia:
“A forte redução no preço da cesta total de combustíveis utilizados (de 6,0 USD / MMBTU para 4,6 USD / MMBTU, -22%) deveu-se principalmente à substituição constante a partir de 2017 de combustíveis mais caros (líquido e GNL importado) , que representou 24% do total em 2015, para o gás doméstico a um preço inferior que ocupava aquele espaço, passando de 64% em 2015 para 84% em 2019.”
Relativamente ao consumo residencial (23% do volume total), a cobertura do serviço (incluindo transporte e distribuição) aumentou notavelmente, de 13% em 2015 para 66% em 2019, para um consumo mensal de 134m3.

Perú y Colombia
Cabe destacar que países como Colômbia e Peru, conseguiram implementar, a partir de 2014-2015 planos energéticos nacionais, com a finalidade de massificar o uso do gás natural, permitindo a expansão dos gasodutos no país.
Em artigo publicado pela Quantum, por meio do BenchSmart (clique aquí [vi] para ver o artigo), sobre as taxas de crescimento de usuários residenciais na região, é descrito que as distribuidoras peruanas aumentaram sua base de clientes em uma média de 50% ao ano, superando confortavelmente os demais países da região que apresentam níveis abaixo de 10%, em média, como se pode verificar no gráfico.

Desde 2004, as distribuidoras peruanas concentram parte de seus esforços na conexão de novos usuários residenciais, respondendo aos estímulos oferecidos do Estado para a massificação do gás natural por meio de programas como o Fundo de Inclusão Energética Social (FISE) e o mecanismo de fomento.
No início de 2019, apresentou um novo plano de expansão no qual elevaria sua meta, com a massificação do gás, de 350 mil para 620 mil usuários em Lima e Callao, atingindo níveis de cobertura, ainda muito baixos por ser um setor em desenvolvimento, 10% em relação aos 6,2 milhões de residências potenciais a serem conectadas ao serviço.
Na Colômbia, a taxa de crescimento anual dos usuários residenciais é de 8%, porém, por ter um setor mais maduro e desenvolvido, eles atingiram uma taxa de cobertura de 53%, ou seja, 5 em cada 10 domicílios do país têm gás natural.
México
Uma informação interessante encontrada em outro artigo publicado pela Quantum (“Análisis de la demanda de gas natural en América Latina y Ranking de Eficiencia de costos”) [viii], e que está fortemente ligada aos resultados desta análise, é a participação das distribuidoras nos diferentes segmentos do mercado de gás: residencial, comercial, industrial, GNV e outros; o que caracteriza cada país como predominante em alguns deles.
No México predomina, como na maioria dos outros países, o consumo industrial com 89%, ao contrário da Argentina, onde a demanda é predominantemente residencial, com o mercado industrial representando apenas 22% do consumo total do país.
A baixa incidência do mercado residencial no consumo de gás natural é justificável em países onde prevalecem as condições temperadas que resultam em baixa necessidade de consumo de gás. O México tem um total de 1,7 milhão de usuários com cobertura de um total de 33 milhões de residências existentes em todo o país, considerando um índice de superlotação de 3,6 pessoas por domicílio em uma população que em 2020 registra 129 milhões de habitantes.
Brasil
O Brasil é o país que lidera em volume de gás destinado à geração de energia elétrica, quando se considera a demanda por termelétricas representada por 32% do volume total consumido no mercado. Possui também um mercado altamente desenvolvido para usuários industriais, representado por 49%, deixando para trás a demanda residencial e comercial.
Uma série de projetos de expansão do sistema de abastecimento e transporte de gás natural estão em planejamento e / ou em análise pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética, dependente do Ministério de Minas e Energia do Brasil). E isto se deve principalmente ao fato do país ter um nível de cobertura de serviço muito baixo dado que a sua grande extensão territorial dificulta o alcance de níveis de penetração mais elevados. Atualmente, possui 3,3 milhões de usuários que consomem gás natural ante os 77 milhões de domicílios que podem se conectar ao serviço que o território brasileiro apresenta.
Chile
As quatro maiores distribuidoras de gás (Metrogas, Gasvalpo, Gassur e Gasco Magallanes) somam o total de 806.273 clientes residenciais. No entanto, no Chile existem cerca de sete milhões de famílias. Isto implica que o gás natural não é o principal combustível com que as famílias cozinham, aquecem água e se aquecem, o que explica porque a sua cobertura não ultrapassa os 11%.
De um relatório publicado pela AGN do Chile (Associação de Gás Natural), intitulado “La económica básica de la distribución de gas por red en chile” [ix] foram extraídos vários parágrafos interessantes sobre a análise do nível de cobertura neste país.
Dos parágrafos extraídos, o seguinte se destaca: Talvez o ponto mais controverso sobre o gás natural seja o quão competitivos são os preços que os clientes pagam.
Alguns argumentam que as distribuidoras “penduram” do preço dos substitutos. Uma das conclusões é que as tarifas do gás natural efetivamente seguem em cada caso o preço do respectivo substituto.
Muitos consumidores em potencial optaram por não se conectar ao gás pela rede. Isto implica que, de fato, a substituição do gás de rede por outro combustível é evidente (esses comércios e residências não param de cozinhar, aquecimento ou aquecer água). Quando se trata de pequenas empresas e residências, o substituto mais direto é o gás liquefeito a granel. A substituição física é simples e quase perfeita, pois o gás liquefeito é utilizado para cozinhar, aquecimento e aquecer água nos mesmos aparelhos que utilizam o gás da rede.
A publicação do AGN conclui que a razão técnica para este fenômeno é simples: a igualdade do custo de conexão do grupo marginal e a economia de recursos devido à substituição de combustível implica que inicialmente o efeito na cobertura é de segunda ordem, enquanto que o aumento do bem-estar dos consumidores já conectados é de primeira ordem.
Fontes:
[i] https://quantumamerica.com/
[ii] https://benchsmart.quantumamerica.com/
[iii] http://www.indec.gob.ar/
[iv] https://www.iapg.org.ar/download/Downstream.pdf
[v] http://www.energia.gob.ar/contenidos/archivos/Reorganizacion/sintesis_balance/2019-12-09_Balance_de_Gestion_en_Energia_2016-2019_final_y_anexo_pub_.pdf
[vi] https://benchsmart.quantumamerica.com/project/peru-el-pais-con-mayor-tasa-de-crecimiento-de-clientes-residenciales-en-el-sector-de-gas-natural/
[vii] https://gestion.pe/economia/nuevo-plan-calidda-ampliara-meta-masificacion-gas-elevaria-tarifas-256374-noticia/
[viii] https://benchsmart.quantumamerica.com/project/analisis-del-sector-benchmarking-2019/
[ix] https://www.agnchile.cl/wp-content/uploads/2017/11/Estudio-Galetovic-y-Sanhueza-enero-2015_Optimizar3.pdf
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